Conheça o Zettelkasten, o método da "Caixa de Notas"
Uma maneira interessante de registrar e desenvolver aprendizados!
Você já passou pela situação de lembrar o seu sentimento em relação a um livro/filme mas não lembrar quase nada do conteúdo dele? E para escrever algum conteúdo de não ficção, já enfrentou um abismo entre um sonho e uma folha de papel em branco pela frente?
Comigo, até pouco tempo, isso era muito comum. Costumava atribuir o fato à minha memória falha e, nos momentos menos autodepreciativos, ao acúmulo de tarefas e responsabilidades da vida adulta. Com uma justificativa ou outra, aceitei que era assim mesmo.
Atualmente, após revisitar um livro que li faz anos (não lembro exatamente quantos) e me despertou à época para pensamentos otimistas sobre organização e escrita (mas não lembrava exatamente por que, conforme registro acima), sei que existem métodos para reter melhor aquilo que recebo de conteúdo e me parece interessante e relevante, mesmo que não necessariamente no momento, e que, como consequência, vai me permitir escrever sobre aquilo e, ainda melhor, conectar com outros pensamentos/registros e gerar novas ideias.
De fato, esse texto é um produto da aplicação desse método que, espero, você se anime em conhecer também!
A "caixa de notas", conhecida como abordagem Zettelkasten, foi idealizada pelo sociólogo alemão Niklas Luhmann (1927-1998). Trata-se de um método de interconexão de ideias por meio de notas. O livro "Como Escrever Boas Notas" de Sönke Ahrens (2017) traz um apanhado interessante da técnica e também dos motivos para utilizá-la.
Para empregar um aspecto prático, creio que primeiro valha a pena explicar o método para depois trazer as suas vantagens.
O passo a passo resumido de aplicação já adaptada para a minha realidade, o qual estou empregando e aprimorando, consiste em:
1. Possuir as ferramentas
Local para escrever - bloco de notas e caneta sempre à mão
Sistema de administração de referências - Zotero
Caixa de notas - Obsidian
Editor de texto - Word
Escolhi as ferramentas acima pela facilidade de uso (materiais interessantes disponíveis, sobretudo no Youtube) e, no caso das digitais, pela capacidade de integração entre elas, além de terem sido mencionadas por Ahrens. Embora existam outras alternativas, acredito que esse modelo seja bastante interessante e pretendo testá-lo. No futuro, poderei tecer considerações sobre a prática.
2. Aplicar as técnicas
Fazer notas provisórias para não deixar passar o momento (quando não é possível, pelo menos registrar as páginas / momentos em que a informação julgada relevante é mencionada na bibliografia para poder realizar a nota posteriormente). É nesse ponto que o papel e a caneta são fundamentais para registrar qualquer ponto de interesse. Também tenho utilizado marcadores da Post-it para marcar os parágrafos nos livros físicos).
Fazer notas de bibliografia. Nesse ponto, o Zotero se mostrou uma grata surpresa. Ele é capaz de indexar vários formatos de fontes de informação, do artigo científico ao vídeo do Youtube, tendo como vantagem a possibilidade de já carregar os metadados sobre os itens. Muito útil para a feitura de referências bibliográficas, pois tem alcance muito bom de reconhecimento de artigos científicos publicados e livros. Ele suporta, inclusive, os PDFs dos artigos, onde é possível fazer destaques que podem ser convertidos em notas. Ele permite, ainda, que se atrele notas aos itens carregados, aqui temos as notas bibliográficas (ou notas de literatura).
Fazer notas permanentes. Quando a ideia já foi estruturada e atrelada à bibliografia de origem, é possível alçar voos mais ambiciosos e jogar aquelas ideias mais relevantes na caixa de notas propriamente dita. Aqui entra o Obsidian. O fato de ser possível integrá-lo ao Zotero torna as coisas mais fáceis, pois é possível puxar o link para as notas de literatura e sua respectiva fonte.
Conectar cada nota permanente criada a outras notas existentes na Caixa de Notas, caso tenham relação. Essa ligação, feita no Obsidian, vai permitir que, quando eu comece a estudar algum tema, possa procurar qualquer coisa que tenha escrito e registrado que possa ter relação com ela.
Quando for o caso de fazer um produto externo, conectar o máximo de notas possível com o objetivo de gerar um “produto”, artigo/post/o que seja. Aqui, cabe o uso do Word (o qual também tem integração - nativa - com o Zotero, após instalado).
Para todos os tipos de notas mencionadas, vale a premissa de serem tão objetivas quanto possível e serem capturadas pelo critério de relevância e por parecerem interessante (a despeito de confirmarem uma ideia pré-concebida ou não. Aliás, registrar ideias que contradizem seu próprio entendimento para ver se elas podem se conectar com outros registros é a cereja do bolo). Além disso, quanto mais "próprias" e menos copiadas, melhor, pois esse processo de refletir sobre o que está sendo visto é fundamental para a retenção do conhecimento a longo prazo e para a capacidade de produzir conteúdo original.
3. Fazer do uso do sistema de notas uma rotina. Aqui é o clichê de não deixar a chama se apagar. Cuidar bem do seu jardim, regar as flores - que são suas ideias. Ler, estudar, ponderar sobre tudo isso com a calma necessária para fazer os registros, transpondo-os para suas próprias palavras. Procurar os links possíveis entre os registros anteriores.
Seguir tudo isso repetidas vezes demanda muito trabalho. Não se iluda. Vai além de baixar os softwares, instalar as integrações e copiar e colar citações. É aqui que seu universo vai divergir do meu e do de qualquer coleguinha e onde nossas caixas de notas vão ser bastante diferentes. Que bom. Não vejo a hora de encontrar um pensamento seu para tomar nota dos próximos desafios.
Próximos passos para quem se animou...
Instalação das integrações (Zotero + Obsidian) - há muitos tutoriais maravilhosos na internet!
Reforço da motivação, caso necessário! Aqui, cabe a leitura do livro de Ahrens, mas, de antemão, fica o alento: para iniciar um sistema de notas, não é preciso reestruturar tudo que você já tem (sobretudo suas ideias)! Comece de agora em diante e, gradualmente, aquilo que for relevante do seu "passado" vai encontrar uma maneira de ser inserido no seu jeito atual de registrar e reter as informações.
Sim, peguei o Obsidian por causa disso ahahahaha só não aplico, mas isso é outra história ahahahaha